Simbióticos unem ação de alimentos funcionais

Por Adenilde Bringel

Os últimos anos do século 20 marcaram o começo de um consenso mundial sobre a importância da prevenção de doenças e muitos médicos, de várias especialidades, passaram a disseminar a informação de que a saúde intestinal é fundamental para um organismo mais resistente. Quando se aborda saúde intestinal é necessário avaliar a ação de todos os alimentos – que são o combustível para a manutenção do organismo – em especial os considerados funcionais. Nestes tempos de alimentação desbalanceada, muito estresse e sedentarismo, os alimentos funcionais são cada vez mais estudados, e os simbióticos já começam a ser apontados como ideais para ajudar a diminuir a morbidade por várias enfermidades e prevenir doenças como câncer, glicemia, diabetes, dislepidemias, doenças intestinais e, até, coronarianas.
O termo simbiótico significa a junção de probióticos e prebióticos. O primeiro grupo é formado por alimentos compostos de microrganismos vivos – como o leite fermentado Yakult – que chegam em grande quantidade e vivos ao intestino humano. Estas bactérias são ácido-resistentes e conseguem ultrapassar a barreira do estômago e da bile e, ao chegar vivas ao intestino, possibilitam uma reposição da flora e, conseqüentemente, um menor risco de o indivíduo contrair doenças. No grupo dos prebióticos estão ingredientes alimentares não digeríveis pelas enzimas digestivas humanas que, seletivamente, estimulam o crescimento ou a atividade de uma ou mais bactérias no cólon – especialmente as bifidobactérias. Estes alimentos fornecem o substrato para a proliferação dos milhões de microrganismos benéficos que habitam a flora humana.
"A ação dos simbióticos modula a microflora intestinal, que depende de clima, alimentação, idade e medição do sistema de infecção e estresse", descreve a nutricionista Yara Carnevalli Baxter, mestre em Ciência dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Terapia Nutricional pela Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral. A nutricionista alerta que, apesar de todas as evidências, ainda é preciso tomar cuidado com algumas afirmações sobre a ingestão destes alimentos, porque nada é conclusivo. "É um terreno novo e ainda não temos algumas respostas. Mas há inúmeros trabalhos acontecendo com probióticos, prebióticos e simbióticos no mundo e todos os indícios caminham para comprovar a importância destes alimentos para a prevenção de doenças", esclarece.
A nutricionista alerta que nem todo alimento probiótico pode ser considerado funcional, porque para que tenha ação funcional é preciso que sobre uma dose biologicamente ativa no organismo. "Tem de sobrar uma dose ativa com ação saudável no intestino, porque é isto que vai ajudar a reduzir os riscos de doenças", adverte. O cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral e Nutrição Clínica e responsável pelo Serviço de Terapia Nutricional do Instituto de Metabolismo e Nutrição do Hospital do Coração (Hcor), lembra que há muitas investigações científicas em andamento nos Estados Unidos e na Suíça para comprovar a ação dos probióticos e destaca que as melhores cepas são as que passam íntegras pelo suco digestivo e que têm a melhor performance em termos de multiplicação. "A bactéria do iogurte é probiótica, mas, se não resistir à passagem pelo estômago, não adianta nada", reforça. O médico ressalta, ainda, que a bactéria probiótica precisa se alimentar e é aí que começa a importância dos prebióticos, que servem como alimento destes microrganismos. "É necessário desenvolver campanhas educacionais para difundir este conceito, desconhecido até mesmo na área médica", acredita.
Daniel Magnoni explica que os probióticos, na metabolização das fibras, produzem um ácido graxo de cadeia curta chamado butirato, que é o nutriente que alimenta a célula intestinal (enterócito). O cardiologista assegura que a ação dos alimentos ajuda até mesmo para evitar doenças coronarianas, porque, na medida que os simbióticos melhoram o bolo fecal, há uma diminuição da absorção de glicose e um aumento da eliminação de colesterol. "Os simbióticos também regeneram a mucosa intestinal, evitam a formação do câncer, e a possibilidade de infecções sistêmicas graças à diminuição da translocação bacteriana", complementa. O médico enfatiza que os suplementos nutricionais são importantes em qualquer idade porque ajudam o organismo a voltar aos padrões normais que norteiam a espécie humana. "Hoje, temos de substituir esta qualidade, porque não é mais possível que a vovó faça isso em casa", comenta. Yara Baxter emenda que o uso de simbióticos também ajuda a diminuir a constipação, controlar a diarréia e reduzir os riscos de osteoporose, aterosclerose, obesidade e resistência à insulina – no caso de diabéticos tipo II.
Entretanto, a nutricionista ressalta que o conceito de alimento funcional também envolve mudanças comportamentais que incluem estilo de vida, alimentação e hábitos saudáveis. Entre as orientações para uma vida mais saudável estão não fumar, não consumir bebidas alcoólicas, praticar esportes, ingerir alimentos em quantidade e variedade adequadas, consumir alimentos com Õmega 3, manter um bom consumo de soja, evitar verduras em excesso, ingerir muitos vegetais, diminuir o colesterol e manter o hábito de ingerir fibras solúveis e lactobacilos vivos. "A receita para melhorar a qualidade de vida é simples e todos podem adotá-la. Os médicos também deveriam insistir com seus pacientes nesta regra", orienta a especialista. Daniel Magnoni concorda com a afirmação e enfatiza que a boa nutrição resulta numa baixa incidência de doenças. "Longevidade está ligada diretamente à qualidade de vida e à dieta balanceada de acordo com a idade", sentencia.

Câncer – As pesquisas com alimentos probióticos e prebióticos vão além da necessidade de provar que são eficazes na prevenção do câncer de cólon. Segundo Yara Baxter, nos cânceres estrógeno-dependentes, a diminuição de gorduras faz com que o organismo também diminua o risco de neoplasias de mama, próstata, colo de útero e colo-retal. "A afinidade de pré e probióticos é diferente sobre carcinógenos", explica. A nutricionista também enfatiza que os simbióticos podem, numa somatória, minimizar ainda mais os riscos de câncer de intestino. "Ainda não há comprovações científicas, mas as evidências são muitas", garante.