Celso Cukier
O uso de peixes marinhos, ricos em ácidos graxos omega-3 tem sido preconizado como agente farmaconutricional com atividades antiinflamatórias e imunoativas. Após 20 anos de pesquisas sobre os ácidos graxos omega-3 cabe uma reflexão sobre sua real eficiência, nas doenças em que seu uso foi verificado.
Ácidos graxos omega-3, são assim denominados por possuírem sua primeira dupla ligação no carbono 3 a partir do radical metil do ácido graxo e podem ser representados pelas formas n-3 ou w-3. São ácidos graxos poliinsaturados de cadeia, representados pelos ácidos a-linolenico (18:3n-3), eicosapentaenóico (EPA – 20:5n3) e docosahexaenóico (DHA – 22:6n-3). Os ácidos graxos w-3 estão presentes nos triglicérides dos fitoplanctons, são consumidos e encontrados em altas concentrações em peixes e animais marinhos (tabela 1).
Alimento |
g de w-3/100g |
Cavala |
1.8 – 5.1 |
Arenque |
1.2 – 3.1 |
Salmão |
1.0 – 1.4 |
Atum |
0.5 – 1.6 |
Truta |
0.5 – 1.6 |
Camarão |
0.2 – 0.5 |
Lagosta |
0.3 – 0.4 |
Bacalhau |
0.2 – 0.3 |
Linguado |
0.2 |
Tabela 1 – Concentrações de w-3 em animais marinhos, segundo Schmidt e Dyeberg, 1994.
Os primeiros relatos sobre o metabolismo dos ácidos graxos omega-3 surgiram na década de 70, a partir de estudos na doença coronariana (Dyeberg, 1978). Esquimós da Groelândia, apesar do alto consumo de dietas ricas em gordura com elevados teores de colesterol e baixa ingestão de carboidratos, apresentaram baixos níveis de colesterol total, triglicérides, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), e níveis maiores de lipoproteínas de alta densidade (HDL), relacionados a menores índices de doenças cardiovasculares (Bang e col., 1971). Nos esquimós a doença cardiovascular manifesta baixos índices de mortalidade ( 10,3%) em relação à população norte americana (50 %) (Arthaud e col., 1970). Os esquimós também têm baixa incidência de asma, psoríase, doenças auto-imunes e diabete mellitus (Kroman e Green, 1980) e maior incidência de doenças hemorrágicas e epilepsia (Yetiv, 1988).
O uso de óleo de peixe na dieta não é inócuo. Os peixes podem estar contaminados com metais pesados e pesticidas (Svenson e col., 1991), muito embora o processo de concentração do óleo de peixe, estes compostos são geralmente removidos. Óleo de está disponível sem as vitaminas A e D para eliminar o risco de intoxicação, por excesso, com estas vitaminas. Por sua ação antiagregante plaquetária, o consumo do óleo de peixe traz risco de sangramento, que é consideravelmente menor quando comparado à ingestão de aspirina.
Pacientes que fizeram uso prolongado (8 semanas) do óleo de peixe apresentaram mau hálito durante seu uso. Efeitos como náuseas, eructações e meteorisma abdominal também foram relatados (Salomon e col, 1990).
Como ocorre com todos os novos fármacos, um grande volume de conhecimentos está se formando em torno dos usos fármaco-nutricionais terapêuticos do óleo de peixe. Recomenda-se que o bom senso, cautela e o acompanhamento da literatura prevaleçam para sua indicação.