Fibras: caracterização e aplicação na nutrição clínica

Dr. Daniel Magnoni
Dr. Celso Cukier

A Terapia Nutricional, nessa década incrementará a utilização de inúmeros alimentos com características funcionais, próprias ou potencializadas por ações da industria química/alimentícia.
Em uma série de seis artigos procuraremos colocar os modernos conceitos em fibras, desde definições básicas até interações moleculares das fibras no metabolismo dos seres vivos.
A utilização comercial de fibras salta aos olhos do menos avisado observador, seja na propaganda alimentícia ou nas prateleiras dos supermercados.
O profissional de nutrição deve procurar constantemente a reciclagem de seus conhecimentos, seja no aspecto de crescimento científico ou na necessidade mercadológica do aprimoramento profissional.
Nesse sentido o completo conhecimento de todas as variáveis envolvendo a utilização das fibras, torna-se fator primordial de leitura e compreensão.
Ao final da sexta parte dessa série o leitor terá recebido todas as informações pertinentes ao assunto, no entanto, como forma de aproximar o leitor dos autores, colocaremos a disposição daqueles a nossa seção de cartas que disponibilizará a rápida solução de dúvidas.

PARTE I – Definição e classificação

O conceito clínico de fibras e sua aplicação na terapia nutricional, remonta ao inicio das atividades relacionadas à saúde. A dietoterapia, como coadjuvante ao tratamento medico, sempre utilizou a prescrição de compostos com fibras visando melhor performance terapêutica.
Ao final da década de sessenta e efetivamente na década de setenta, a relação de baixo consumo de fibras dietéticas e maior incidência de inúmeras doenças, foi correlacionada. Nesse aspecto ganha importância o trabalho de Burkitt e colaboradores, a relação entre o tempo de transito intestinal, baixa ingestão de fibras e desenvolvimento de doenças relacionadas foi plenamente estabelecido.
Classicamente podemos concentrar a exata definição de fibras como substancias originárias de organismos vegetais, estruturalmente semelhantes a carboidratos e resistentes a hidrólise por sucos enzimáticos do tubo digestório.
A definição clínica, mais pormenorizada, do "conceito fibras", esbarra nas características físico/químicas e fisiológicas dessas substancias.

Características Físico/Químicas:

As fibras possuem diferenciações em relação à solubilidade, viscosidade, gelificação (potencial de retenção de água), e capacidade de incorporar substancias moleculares ou minerais.
A estrutura tridimensional da fibras, sua estrutura molecular básica, pode ser modificada na manipulação industrial ou no momento do transito intestinal, pela ação de substancias acidas como o suco gástrico.
A solubilidade, caracteriza-se pela estrutura molecular, tamanho da cadeia e composição da partícula, relaciona-se de forma indireta com a viscosidade.
De forma análoga, a retenção de água, propriedade incrementada nas pequenas partículas, possue relação indireta com a incorporação de minerais e substancias moleculares.

Características Fisiológicas:

As características fisiológicas das fibras derivam da atuação destas na mucosa intestinal, seja pela ação direta na mucosa intestinal ou pela interação fibras/ produtos orgânicos derivados /enterócitos.
Resumidamente podemos relacionar algumas das principais características:

  • Retardo na absorção de carboidratos.
  • Pró sinergismo na função intestinal: aumento do peso fecal, absorção de água.
  • Degradação fermentativa com subprodutos relacionados à nutrição do enterócito ( ácidos graxos de cadeia curta).
  • Ácidos graxos de cadeia curta atuam no perfil lipídico e glicêmico por ação direta na produção e excreção da bile.
  • Frutooligossacarídeos (carboidratos indigeríveis e fermentáveis) possuem função pré biótica e incrementam a absorção de Cálcio.
  • As fibras insolúveis atuam diretamente no transito intestinal, promovendo aumento no número de evacuações e conteúdo fecal.

Classificação das Fibras

A- SOLUBILIDADE:

HIDROSSOLÚVEIS INSOLÚVEIS EM AGUA

Gomas Celulose
Pectinas Lignina
Mucilagens Hemicelulose (B)
Hemicelulose (A)

B- SUBSTANCIAS SEMELHANTES À FIBRAS:

Inulina
Frutooligossácarideos
Amido resistente
Açúcares não absorvidos.